quarta-feira, 30 de março de 2011

As marcas

"As pessoas podem não se lembrar exatamente do que você fez, ou até mesmo de todas as coisas que você disse, mas elas sempre se lembrarão de como as fez sentir."

Mario Lago, ator

quarta-feira, 23 de março de 2011

Cúmplices


A  minha caminhada solitária eu partilho com alguns cúmplices.
Eles assistem á minha angústia; intensa e calma, forte e chorosa; são testemunhas do meu choro de dor e de alegria. Eles seguem no meu rítmo; os mais velhos já entendem rapidamente o que eu quero, os mais novos nem tanto; precisam de mais intimidade e isso leva tempo. Alguns já não se prestam a mais nada, mas eu me recuso a descarta-los, como poderia?! Estiveram comigo no nascimento de cada série, até que mais nada eu pudesse tirar delas. Meus queridos pincéis; a extensão da minha mão, meus verdadeiros cúmplices.

segunda-feira, 7 de março de 2011

A DOR DO HOMEM QUE SENTE

Atormentado. Eis a condição intrínseca ao fazer do sociólogo. Antes de qualquer coisa um cidadão que deve refletir e desvendar o mundo social. Um mundo atormentado. Talvez, não mais do que outros mundos e épocas, mas o mais consciente de seus fantasmas.

 Reflexividade cognitiva e instantaneidade comunicacional pintam o quadro do tormento. As tintas são densas, as pinceladas pesadas, as camadas se sobrepõem, a percepção se embaralha. E espanta. O humano se torna monstruoso. Como em um quadro de Bacon. Espanto contínuo que pode jogar o cidadão na letargia.

Se o cidadão para afirmar sua cidadania não deve ficar insensível ao espanto, o sociólogo não pode. Por dever de ofício deve manter o espanto, o tormento, a angústia. Mas não pode desesperar. Não pode fugir, nem virar as costas. Por obrigação social deve estar atento e astuto. Astúcia para ser capaz de conviver com as sensações de tormento e espanto sem perder o viés analítico. Astuto para não gritar contra as brutalidades policiais durante o trabalho de campo, mas segurar o tormento até chegar ao conforto de sua casa e ter a coragem de assumir as lágrimas que embaçam a visão ao escrever o diário de campo.


EBER PIRES MARZULO, 2005