segunda-feira, 7 de março de 2011

A DOR DO HOMEM QUE SENTE

Atormentado. Eis a condição intrínseca ao fazer do sociólogo. Antes de qualquer coisa um cidadão que deve refletir e desvendar o mundo social. Um mundo atormentado. Talvez, não mais do que outros mundos e épocas, mas o mais consciente de seus fantasmas.

 Reflexividade cognitiva e instantaneidade comunicacional pintam o quadro do tormento. As tintas são densas, as pinceladas pesadas, as camadas se sobrepõem, a percepção se embaralha. E espanta. O humano se torna monstruoso. Como em um quadro de Bacon. Espanto contínuo que pode jogar o cidadão na letargia.

Se o cidadão para afirmar sua cidadania não deve ficar insensível ao espanto, o sociólogo não pode. Por dever de ofício deve manter o espanto, o tormento, a angústia. Mas não pode desesperar. Não pode fugir, nem virar as costas. Por obrigação social deve estar atento e astuto. Astúcia para ser capaz de conviver com as sensações de tormento e espanto sem perder o viés analítico. Astuto para não gritar contra as brutalidades policiais durante o trabalho de campo, mas segurar o tormento até chegar ao conforto de sua casa e ter a coragem de assumir as lágrimas que embaçam a visão ao escrever o diário de campo.


EBER PIRES MARZULO, 2005

2 comentários:

  1. Olá, vim conhecer sua casinha...e me tornar seguidora...

    outra hora volto para te ler com mais calma...

    volte sempre lá em casa e deixe seu comentário, será um prazer...lá o outono chegou... beijos...

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